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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O Amor

Nosso amor nasceu da poesia
de um samba na padaria
aquele dia chorava o violão
de um olhar, uma conversa, ou então,

do destino que se cumpria,
ou o simples acaso, alguém diria
a coincidência de estar no mesmo salão
a magia da música e a ocasião

eu esperando sim, você dizia não
beijos, um teimoso telefone, alegria
que ladina seguia pela contramão

do desencontro, por não ter espaço no dia
ocupado pelo trabalho sem coração
até que uma sexta-feira se abriria

uma brecha, um espaço, um vão
e brotou devagar em meio a razão
uma faísca, fumaça e de uma fagulha
nasceu um fogo e feito uma pequena agulha

foi costurando pensamento, alma e coração
assim não virou sim, coladas as mãos
de tijolo em tijolo feito construção crescia
algo tão forte e belo quanto o dia que nascia

amor vivo que, creia, cria consciência
a consciência própria da paixão
não havendo, razão, mito ou ciência

dissertação, resenha, ou solução
capaz de traduzir a essência, a cadência
de dois corações batendo na mesma marcação.

sábado, 23 de novembro de 2013

Beira de Rio

O som do rio correndo
o passarinho cantando
o som que vai brotando
da chuva segue caindo

a nuvem quase passando
o sol levemente brilhando
a fumaça densa subindo
a cabeça intensa pensando

o tempo do tempo correndo
as pedras paradas ficando
alguém segue nadando

no rio que vai mudando
pela estrada enveredando 
céu e chão vermelho grudando.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Há um louco

Há um louco em minha mente
nos olhares, gestos, nas palavras se sente
nas escolhas no presente, ou, passado
no pensamento ainda empoeirado

Há um louco em minha mente
passando ao meu lado, rente
estende a mão, me levando
pro não lugar, não mundo

Há um louco em  minha mente
perguntas, medo, confusão latente
racionalmente, eu sou o louco
que não sou eu, nem outro tão pouco

Há um louco em minha mente
há muito tempo obscuro e incandescente
a própria presença e a ausência
tudo que é ideia e em si, vivência.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Mundo Poesia

De volta pro meu mundo
o mundo das palavras
brindamos o sucesso ido
bebemos o fracasso que lavra

e fica, finca feito faca
na alma uma brisa fria
refletindo tudo no que se creia, ou se cria,
nublando feito noite opaca

ideias leves e pesadas pensadas
num redemoinho de ecos
distorcidos, imagens prensadas

aromas e sabores dos mais singulares
entre sonhos e as realidades,
todos os versos tem seus pares.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Retrato Humano

Sou meio contradição,
outra metade de certeza
parte de sim outra de não
obscurecendo com clareza

a força bruta e a fraqueza
em estática e em ação
de tom irônico e a franqueza
o racional e o coração

a leveza e o que pesa
o indizível e a explicação
o caçador e a presa

o amor e o ódio na mesa
o desentendimento e a compreensão
alegria e  tristeza.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Mais um tempo

Mais um tempo
uma conta,
uma nota,
mais um trapo;
Mais um tempo
um trago, o cigarro
quase um sarro,
tudo limpo;
Mais um tempo
de dor e amor,
senso de humor,
ideia de todo tipo;
Mais um tempo
uma prova
que crava
no pensamento, no topo;
Mais um tempo
assim vai transcorrendo
dias passando, chuva caindo;
Mais um tempo

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Palavras Cansadas

Palavras cansadas brotam na mente
dos cantos mais escuros
de propósito mais demente
de repente me deparo

com os dedos escorrendo
um verso assim débil
um pensamento perdido
uma obra bondosamente vil

escondida entre os dentes
em meio a saliva, prestes
a verter-se em uma trama envolvente

discretamente, grafite e papel
numa combinação infalível
feito as nuvens e o céu.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ei seu moço

Ei seu moço;
O vento traz consigo
do fundo do seu fosso
rastros, rostos, amigos
Ei seu moço;
A chuva leva consigo 
pro rio além do espaço,
vidas, verdades, ambíguo
Ei seu moço;
carrego cá comigo
sonhos, amor, irmão, o que posso
e tudo mais que persigo
Ei seu moço;
A terra marcada trago
em meu corpo cada pedaço
que conservo ou estrago
Ei seu moço;
O caminho é longo 
pesado e tortuoso não esqueço
peço pão, um gole e mais um trago.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Memórias Tortas

E já não vago no trem fantasma
de calçada em calçada, em agonia íntima
já não sou mais vítima e carrasco
já não mais vivo a passos juntando cada caco

não mais acordo pelos cantos
eu já controlo meus prantos
pontos impregnados na alma torta
que não mais se perde na balada da lata

o que resta é a memória nata
de uma dança, de cada passo
de um sentir, de algo que falta

uma memória intimamente ingrata
inimiga amada, guardada, trancada
esculpida na carne, talvez, nunca parta.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Meu tempo

Não faço do seu o meu tempo
ando por ai me perdendo
o presente mostra seus dentes, topo
com eles que vão me mordendo

as vezes paro, outras saio correndo
mastigado sigo feito trapo
me visto de rato, no buraco vou seguindo
me queimo, tropeço, levanto, raspo

nas arestas, ouço suas ofertas com sorriso limpo
palavras, cafés, problemas, sorrindo
sobram receitas, receitas de todo o tipo

em turbilhão de pensamento voltando
paro sem pele, desprevenido , mente e corpo
nem lobo, nem rato, sigo sem saber onde estou indo.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Vinte e Sete

Entre a fumaça e o silêncio, se repete
todo um pensar, que inevitavelmente reflete
inícios e finalmentes, entre mentiras e verdades
distraído concentrado, refém, mas além de bondades e maldades

o todo, que é parte, se parte em partes
todas elas universos singulares, conflitantes
metamorfoses ambulantes, o que ganha, o que perde
a fome de tudo,  a insaciável sede

o que anda na linha ou vem pela contramão
e pela brisa corrente, pensamentos intermitentes
permeados por passados, presentes, poréns e senão

numa consciência, meramente, inconsciente
fechando abro meus olhos, flutuo pisando no chão
pela brasa luminescente, que lumia minha mente de repente vinte e sete.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mamãe eu quero ser papa

Mamãe eu quero ser papa,
um papa, papai noel
Mamãe eu quero ser papa,
em um castelo de papel
Mamãe eu quero ser papa,
ir num navio rumo ao céu
Mamãe eu quero ser papa,
e tomar banho de chapéu
Mamãe eu quero ser papa,
ou um Al Capone infalível
Mamãe eu quero ser papa,
e um bolero de Ravel
Mamãe eu quero ser papa,
ou terremoto imprevisível
Mamãe eu quero ser papa,
duma história inconfundível.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A Fábula do cisne e do corvo.

Em uma floresta distante
o cisne era o cuidador oficial da saúde dos habitantes
dos trópicos era uma imensa floresta
e os cisnes não eram presentes em muitos lugares dessa mata,

cavalos, lobos, preas e pacas
passam a vida sem ver um cisne, ataca
a doença, contra-ataca com ervas e água abençoada,
a sabiá, coitada, morreu sem ser diagnosticada

até que um dia em tarde de revoada
corvos cuidadores,com suas boas novas recém chegadas
migraram. As formigas ficaram encantadas

pois lhes parecia chegou o grande dia
cuidar da saúde não seria apenas pra raposa e sua cria
o tatu ficou animado, depois de tantos anos cavando finalmente seria tratado,
a hiena ficou cismada, seu negócio de cadáveres seria abalado?

Mas o porco do jornal PIG estava inconformado
como o Conselho Geral da Mata havia permitido
que estes corvos estrangeiros, aqui viessem prestar seus cuidados,
ora essa sempre foram os cisnes, tudo estava muito mudado.

E os cisnes? Estes embalaram o coro
indignado, perdidos, desconfiados, berravam feito loucos:
- Como assim, eramos os únicos sublimes!  A um corvo, EU, não me comparo!

E entre as tempestades, os ventos e o sol da tarde
na irônica florestas dos límpidos e cândidos cisnes intocáveis
corvos não podem cuidar dos ombros onde apenas o trabalho é que age e arde.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sobre professores e alunos.

Fico então parado e vagando
talvez, melhor desempregado 
a ser alvo de veneno de rato
ato de um determinado esperto

tirando um barato de morte
que não é suficientemente inteligente
pra ver que a questão está na sociedade
no sistema, o Estado, na cidade

fácil eliminar um operário do giz
abraçar vereador, deputado e senador
louvar o patrão, o que me diz

só conjuga o verto ter, infeliz 
da servidão, cidadão propagador
vítima e agressor de um conjunto de ideias vis.  

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Inapto

Não, eu não, sei escrever
minha poética é rota, minha voz é rouca
ideias fulas, lírica pouca
métrica pobre, como me atrever?

Não, eu não, sei escrever
texto que não progride, rima louca
coesão inerte, tema que não foca
norma culta, nem se pode ver

Não, eu não, sei escrever
minhas palavras condenadas a forca
sem defesa, assim fica
então, a mercê de um determinado entrever

Não eu não, sei escrever
o canto que os velhos urubus evocam
sonhos são o que eles enforcam
ilusões, sentimentos, inverter e envolver.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Palavra

Noite vermelha, vento navalha
o frio me permeia, o som incendeia
a mão atrapalha, mente trabalha
a boca falseia, enquanto se enchia

de palavra, escrava, que trava
assim entala na goela
não sai e não mais fica onde estava
estrela, não há quem possa guiá-la

loucura sana, sagrada e profana
bacante, Baudalaire distante
flana, inflama, doidivana interna

torta, assim sem janela ou porta
viva ou morta, roda introspectiva,
soma daquilo que não importa.

terça-feira, 16 de julho de 2013

A Capela

Em uma bela miragem
sentado a beira da capela de madeira
retomando uma viagem
de tantas terças-feira

de fumaça é a passagem
o lugar a mata funda e a clareira
a ideia o veículo, o pensamento a bagagem
a dúvida levo como parceira

as árvores, os prédios, imagens
pessoas como nuvens passageiras
que se transformam e interagem

sendo, ou não, como queira
o vento venta, lembranças rugem,
só mais uma terça-feira.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Trama do tempo

Vivendo a trama do tempo
o trauma, transforma o evento
sem abismo, muito menos topo
um mito sacro e seu rito

torpe, que revive o não morto
em um futuro que se propôs
transcendental ou utópico, mas, farto
de uma dura e absoluta solução que se impôs

o ideal, funcional, racional, perfeito tipo
pensado para ser o mais limpo
o reino do espaço eterno perfeito

em detrimento ao ambíguo e torto
ser em vertigem na temporalidade e por ela absorto
que não se percebe além de um roto farrapo.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Sobre Seres.

Dos lugares em que já fui,
de onde eu não estarei 
observei o rio eterno que flui
sentado, os pés molhados esperei

olhos rubros, de dizeres profundos
como num silêncio submerso
em questionamento e inquietação, impregnado
em reflexões, estruturas ou processos

fruto da relação de tempo e seres
complexos, fetiches, egos e prazeres
condensados por uma razão e seus dizeres

pobres seres, tanto se corre e por vezes
entre espelhos, tocas e trocas
pensa que pensa e acha que fazes.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Ideias voam.

O cinza toma conta do céu
escondendo o azul e o sol
chuva cai, caneta corre o papel
expressando o que se pensou

tão rápido que quase desapercebido passou
com um sentido um tanto improvável
e que de tão pequeno quase não se sustentou
rumando assim ao invisível

desconhecido da memória
registrada e preservada no papel
oficial, ou assim se diria

mas, par do esquecimento seria,
e como vento incontrolável
do nunca pro nada assim se seguiria,

terça-feira, 25 de junho de 2013

De Raul

E hoje um virginiano sem lar
procurando a ilha da fantasia
num caminho sem par
e a paranoia com euforia

aquela coisa, ainda não encontrei
nas minas do rei salomão
não pare na pista, mas derrapei
movido a álcool, na contramão

sempre um carpinteiro do universo
apreciando a maçã, em meio a mata-virgem
é o fim do mês sem sucesso

na loteria da babilônia, o vazio
e tudo de cabeça pra baixo
sim, mas I love you.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sociedade Alternativa

E de repente se redescobriu a rua
se expõem realidades nuas e cruas
cruéis, são práticas ou papéis
alguns bradam, outros seguem feito fiéis

cordeiros estéticos em meio ao tiroteio
de borracha ou verborrágico, do qual está alheio
anseio de uma transformação social
não se sabe exatamente se tal ou qual

afinal, o caos, a convulsão social são partes
do clamor por uma transmutação
tão profunda, geral e intermitente

que brota no interior como semente
e como já havia proferido ferozmente Raulzito
a sociedade alternativa está dentro de cada um, dentro da gente.

domingo, 2 de junho de 2013

O grito

Coço a cabeça cavando
soluções que não sei
se quer se vão existindo
ou se fruto do que pensei

ouço no fundo, um barulho mudo
teia que não fiei
a ordem, o caos, oriundo
no qual precipitei, principiei

no mais profundo absurdo
soturno, na noite, notei
que no fundo infindo

pairando no ponto onde parei
numa encruzilhada, dividido
num pensamento súbito gritei.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Transmutação

Ando por ai perdendo passos
ando por ai passo a perder
desde menino venho andando distraído
com meus óculos, tropeçando, meio caindo
dividido entre e o viver e o sonhar
sem responsabilidade ou conta pra pagar
Ando por ai perdendo passos
ando por ai passo a perder
É evidente tempo passou independente
e eu já me vi adolescente
desengonçado, complicado, rotulado
pela transformação ávido
Ando por ai perdendo passos
ando por ai passo a perder
Fui eu então as ideias conhecer
perceber que nada seria, além, de me reentender
no universo universidade, aparência, vaidade
descobri não procurar mais uma verdade
Ando por ai perdendo passos
ando por ai passo a perder
Certezas são o que me evadem
ou internamente implodem
para então brotar o diferente
Transmutando do que se pensa ao que se sente.
Ando por ai perdendo passo
ando por ai passo a perder.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Digressões de um torcedor

Vivendo o retorno eterno
do diferente, irracional e coerente
que viu novamente falhar o plano
viu levado pelo fluir da corrente

um sonho que se pões e outro se ascende
pelo entender, que vencer ou perder
é um detalhe e quando se despende
vontade, se corre, luta, padecer

cair, mas de pé, impondo seu ritmo
contra-tudo ou todos, jogando
simples, ouvindo me inflamo

todos clamando seu hino
diante de todo o revés, mostrando
o rito de todo bom corinthiano.

domingo, 12 de maio de 2013

Mãe

Primeiro proporcionam-nos a vida
medidas cuidados, preparos 
noites mal dormidas, emoções sortidas
reparo, impenetrável, inteiro

pleno em sua essência, planos
os anos, um amor tão intenso 
que penso, sem métrica, signo
humano único a todo tempo sendo expresso

não pede troca e não importa a ocasião
senão sorrindo, chorando, apertando
ela então acolhendo, abre portas, opinião

duras, suaves mas sinceras, deveras
as claras, suas expressões, impressões
lições, pensamentos, sentimentos, ideias das mais sinceras. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Homem de gesso

Acordo, levanto, ando
estranho, me banho
e me barbeio, não saboreio
cada segundo, que perdi mudo
o ganho, não sou eu que abocanho
sóbrio, sensato, buscando ser sábio
sendo assim tragado
apanho, afago, venho
no conflito, me explicito
calado, anulado, perdido
sonho, sonhando, ruminando o caminho
esteio de tudo e nada, portanto, alheio.

domingo, 5 de maio de 2013

Sincretismo

E assim dou um tempo
com o tempo, desligo
minha mente meu redor deixo limpo
seus fluídos, cada gota, cada pingo

conflito, segue, desintegra
e assim nas profundezas da terra
torna a se reintegrar
daquele que acerta ou o que erra

e errar, como errante pela atmosfera
vacante adorador de Dionísio
Pitonisa e suas ervas, sob os olhos de Hera

guardado por Ogum
pintado de Urucum
pronto pra cair nos braços de Iemanjá.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Desabafo

Eu sou de gênio forte
típico, utópico realista
e por mais que não se note
enche o pote, solo de passista

a harmonia da tribo de Judá
a lança Capadócia no dragão selada
o cuspi na calçada
o obscuro, a sombra na encruzilhada

o suor, o pão, a palavra
o omega e o alfa
o que colhe e o que lavra

o que gera e o que ceifa
criador, criatura, cria e atura
ouve, rumina e desabafa.

domingo, 21 de abril de 2013

Vício

Sempre ouvi falar
desde ainda menino
seus suplícios, aos meus olhos vi saltar
em parte de seu veneno

quando jovem de seu prazer
certamente, o infinito, gozei
senti com todos os sentidos a se apetecer
seus diversos venenos e a realidade transpassei

hoje sei que não sei 
se quer ao menos, o que pensei
sentidos alterados que vão além

estando atrelado a todos e a ninguém 
sois então minha prisão e meu palácio 
de força e fraqueza, do difícil e do fácil.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Foice não Cabral

Cabral não descobriu nada
foi à foice e machado
a terra descoberta, pelada
e um povo rasgado

deu terra em troca de deus
pecados tornaram-se seus
de repente tudo era erro
tratado a fogo e ferro

um silencioso berro 
de profundo mistério
de ódio, medo, desterro

de quem perdeu a voz
a vez e a vida, vazia
dos esquecidos em sua existência.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Improviso

Meu verso é de improviso
bocado daquilo ou disso
eu vivo de inspiração
advinda da ideia e sua transposição

de sua imagem, cheiro ou cor
gosto, seja lá o que for
vem suave como a pena
incisiva  como fio da lamina

pairando a flanar pelo ar
ao papel a se mostrar
como rio que marca seu leito

cabeça, caneta e peito
se alinham feito planetas
formando linhas abstratas.

terça-feira, 9 de abril de 2013

De encontro

Ouça bem o que eu vou dizer
do teu perfume que não passa
o tempo que segue, o leve prazer
de estar ao teu lado que não cessa

de tudo seu cabelo, seus olhos
mesmo do fato de seres água, eu óleo
porém antagônicos, frente ao espelho
singular, mãos não mais ao léu

um desencontro dos mais encontrados
soava, violão, pandeiro e cavaco
talvez dois olhares cruzados

alheios, que se tornam familiares mosaicos
de dizeres tão singelos, tão profundos
formando-se assim o entender a partir de pequenos cacos.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O leito da vida

De tudo que já atravessou minha retina
das páginas dos livros
os caminhos, á que se destina
ao asfalto, o barro, os carros
parvos, que não param, nem dão a mínima
só veem sinais, aptos e sinos
sem os quais o mundo já não interpreta, mas
vegeta num terreno reto e plano
o dito louco se navega pelo mar
empurrado pelas ondas
tragado pelas marés, brisa vem acalmar
em meio a ideias devoradas
o tempo que não passa se dissolve
ninguém mais se nota
hoje, aqui, agora é que se resolve
e a vida se faz morta
pega as sete, larga as quatro
sem pensar, apenas comprar
uma ideia, o pão, o vinho, rastros
do curso comum
sem curva sem abismo, tedioso
ao qual sigo não seguindo, nenhum
partido, impeto ou idealismo glorioso

quarta-feira, 3 de abril de 2013

HIstoriando

Meu diploma eu consegui
mas aula não tem pra dar
meu pai me avisou, que isso viria já
no estado do Paraná, procurei aqui e ali

mas levei uma rasteira, tipo golpe de capoeira
desse tal governador, feita por ele a besteira
de tratar feito empresa a nossa educação
com uma leitura rasa e conta de multiplicação

a memória abandonada, a História não vale nada
o agora pulsa em nossas veias
como se brotasse do nada
é colheita que não se semeia

é o novo mais velho que existe
é o espetáculo do presente que todos assistem
mesmo aquele que resiste
apanha, levanta, insiste

em olhar o outro lado
talvez obscuro, marginalizado
tiro dado no escuro
ideias que picham e derrubam muros

mas teimoso o cidadão
em não ensinar essa lição
que se renova e é tradição
o que foi, o que é e o que serão

A relação ser humano e tempo
culturas, políticas do momento
ação de pensamento, tipo rebento
que de seus ancestrais tem entendimento.
Venancio, Kajimata.

Mais valia

Levanto cedo pra ir procurar
já tenho muito o que fazer
mas preciso do de comer
vou então minha força penhorar

a troco de uns trocados
pra pagar água, luz e conjugado
confinado feito gado
úmido e apertado

eu e cinzeiro, 
baseados em outros lados
caminhados, tão distintos, tão vividos
pelo vento sendo levado

sou assim água de cano
que em seu rumo tem ditames
nocivos como reclames
com sua norma e seu plano

em princípio de noite enluarada
sou comida, água e sonho,
dou um grito medonho
pra livrar-me dessa farda.

Venancio,  Kajimata.

domingo, 31 de março de 2013

Em mente

Minha mente não sabe
e não entende, o que venta
levando e trazendo, o que desce e sobe
uns chamam reflexão outros revolta

o que importa são as portas
da percepção que se escancaram
enquanto outras se trancaram
estancam, esgotam, possíveis rotas

tão próprias, tão tortas, palavras se fazem mortas
dizem que elas apenas falam
e o que se fala quase não se nota

somente o que se anota, se põe nas pastas
tem vida, os restos então se calam
fica então este registro antes que se parta.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Escrita

Não faço os redondilhos de Pessoa
ou mesmo sonetos de Camões
apenas clamo a plenos pulmões
por uma escrita que não destoa

em sua rima, como em carta de Vinicius
ou nos ditos infindos de Drummond
sentimentos do cotidiano ruminam e formam
relatos, registros, desejos, suplícios

simplesmente líricas vertidas no papel
doce como açúcar amargo feito fel
pesadas feito vingança, límpidas como o azul do céu

apenas letras tão juntas que de forma astuta
se cria, se projeta, se inventa
o sentido que sua mente aguenta.

terça-feira, 26 de março de 2013

Inquietude

Fluxo intenso, dunas de pensamentos
as mãos úmidas e intranquilas
olhos tentando se entender com as pupilas
boca seca, cerrada, sem relatos

ouvidos incautos a se debater
e o ar cada vez mais rarefeito
perfura as narinas a se dissolver
acelera e para o coração no peito

a ilusão da fantasia se vê desfeita
passos longos e duros, à espreita
então de uma mera e pura disputa

onde o prêmio se confunde com a lida
e os notórios creem, então, terem vencido
esse jogo mesquinho, de mão perdida.

domingo, 24 de março de 2013

Crença

Que tipo de idiota ainda sou
por esperar, migalhas que
seja, ou algo que se explique
não complique o que se pensa ou pensou

tamanha inocência, tal crença
no que de bom, que se nasceu
de uma crise profunda talvez padeça
senão moribundo, morreu

ainda estúpido quero que um sono
mais que profundo esse tecido fino
da humanidade em laços intrínsecos e internos

esteja imerso e que num verso
reverso, inverso, bradados aos infernos
acabe com esse cíclico e tedioso processo.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Do tempo.

Seria então uma questão de entender o momento,
saber simplesmente administrar o tempo
simples, oposto e pretensioso intento
de quem ao seu passar se faz farrapo

desgastado, talvez, um tanto sábio
que ao mesmo tempo que esfacelado, reflexivo
nauseado, entorpecidamente sóbrio
um cérebro substancialmente ativo

inquisitivo sobre o tempo e seus desígnios
entre o que ele leva e o que traz
entre pedras e lamaçais, princípios

e finais que as vezes beiraram precipícios
sempre mostrando diferentes portas, mas
cobrando sempre instintos tão próprios.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre o Tempo

Já foi então o tempo
em que eu era dono do tempo
ainda recordo do cheiro, do gosto
de rostos, que vão além dos gestos

discretos, simples afetos de seres
que compuseram, a quem se refere,
é esta a família escolhida
formada pelas andanças e tropeços da vida

saudoso tempo de diálogo intenso
com o mundo, ou com o pouco que conheço
beirando a hermenêutica as vezes o silêncio

traz consigo feito créditos de cinema
nomes, histórias, memória e dilemas
situações, críticas, aditivos, problema.

terça-feira, 5 de março de 2013

Escrever

Isso tudo, se algo fosse
além de palavra que faz-se
do nada, indo pro nada, onde
se esconde, o que não se sabe, arde
parte em partes, postas em potes
de montes de mágoa, mentiras, motes
escárnio, o mais puro sarro, ferino
dos paradoxos, inexplicáveis do destino
sendo assim, inquilino no tempo espaço
respirando a transformação expresso
é o que posso, fujo do poço, com pressa
fingindo que não faço assim dessa
minha preciosa droga injetada
no papel a canetadas, carregada
de ideias que pra uns não valem nada
emfim, inútil, talvez só tenha beleza
talvez, fútil, onde uns veem sutileza,
 para outros é coisa rasa.

domingo, 3 de março de 2013

Vivendo

Por essas primaveras, sobre a terra, paira meu olhar
já vi dias tão lindos, coloridos, sob a luz solar
e que com sua tinta cinza a lua tinge a rua
que já fostes também tão escura, outro lado, tão crua

que nua sua realidade, petrifica me perfura
e em meio a ansiedade andei pela cidade dura
e desci ao centro da terra, guerra, fera e erra
voltei com cicatrizes, queimaduras, escaras de garras

nessa mesma infinitude senti também a plenitude
de um céu tão esplendido e iluminado, do contato
dos pés com o mato, pois então, se confunde, rasga o contrato

saí de lado, eu e o mato não perdemos o nosso laço
assim a relva, gotas de orvalho, pelas ideias, passos
em direções, diversos, imprevisíveis e tortuosos espaços.

Tentando entender

Eu queria entender quais são os seus segredos
eu queria saber do que você tem medo
eu queria poder ser a mão em seu cabelo
e me perder no seu sorriso tão belo

teus olhos tão negros e incrédulos poder adentrar
nuance, discreto, do teu sorriso se mostrar
sorriso feito narcótico, inebria, toma, acelera
e faz pulsar o cardio, tomando por inteiro

feito chama que queima o corpo e a alma
a partir de então perde-se a razão e a calma
um tornado de pensamento e emoção se forma

deforma ideias já prontas que no final das contas
forma essa massa viva de pensamentos, como íntimos
dor e desejo em meio a tantos lampejos vem a despontar.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Rotina

A rua é tomada pelos motores, passos contados
guiados, pessoas ruminam dos currais aos pastos
seguindo os mesmos rastros, estando assim fadados
como máquina ser tratado, e do ser resta apenas o retrato

que diante do espelho se vê desintegrado, pálido
sendo sombra, apenas de quem outrora vivia de fato
a consciência um detalhe sutil, abruptamente eliminado
do trabalho explorado, da sociedade do espetáculo é fruto

irrigado com os fluidos mais variados, apático vai se tornado
os que desse sumo provam, sem nem mesmo saber disto
se enquadra, acorda, dorme, come, trabalha, se formatando

enquadrando girando a roldana como na gaiola faz o rato
sem ouvir, pensar, questionar, sonhar o não imaginado
fortalece a cada dia com a rotina melancólica seu monótono pacto.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Tempo

Entre o chão e o céu a torre se enterra
em quem fica inerte, se omite não erra
o erro é lá no fundo, fugir do normal
deixar levar o mundo, sem destino final

sem roteiro, esparre, escudo de guerra
ou infortúnio, dos tempos mais escusos, que agarra
e pela porta dos fundos, desfaz-se tudo sobra só o sinal
tão quase é tudo, devorado pelo tempo, seja sublime ou banal

porém eu não me iludo sou preso também, pela sua amarra
de um nó forte e profundo do qual fuga não se tem, não corra
reflita, então, pergunte, como corre, se para ou se segue, carnal

ou instituído, ou o instinto do canto do animal
que percebe cada momento diferente, torra
cada caco de vida vivida, sempre levando a forra.

Retrato dela

Hoje as palavras escorrem feito
gotas de chuva no vidro da janela
ou o mel que corre nos lábios dela
sobe o cheiro do seu perfume no balançar do jeito

que só os seus cachos sabem pelo ar pairar, resplandecente
é o seu sorriso de um ar ingênuo, ardente
encanta e invade a mente com certo brilho
desses que brotam no espirito, e se reproduzem nos seus olhos

insinuantes, que fitam e hipnotizam, numa troca de olhar
talvez uma carícia, da sua pele macia, suave feito orvalhar
da manhã tão serena que a grama suavemente vem molhar

e toma com sua voz digna do canto da sereia
que chama de sublime maneira quem passa a se atirar por inteiro
nas profundezas do seu coração como o sangue que flui em tua veia.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sapato apertado

Em certos dias em que paro pra pensar
se na vida, no destino, no tempo a passar
percebo como sou eu quem paro e encaro
a todo momento e entre espaço e tempo, me deparo

sendo assim com a caneta alivio o meu calo
que já é crônico e inflamado pelo sapato apertado
de outrora, que cansado agora, pude arranca-lo
e tentar novos passos, sem pés formatados

apenas marcados pelos acasos dos caminhos
e seus desvios, as vezes tortuosos, desconhecidos
com sua lama, ou seu saibro batido, talvez espinhos

quase sempre sozinho, desenrolando o enfumaçado
no real teatro, cujo o palco, são os diversos ninhos
de ideias, pelos quais caminharei sem calçado acochado.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Conto de carnaval

Um domingo de carnaval cinza
um samba tão velho que versa
de estrelas, de florestas de pedras, de casa
uma em cima da outra, sob a neblina espessa

de gente que não para, gente que não se fala
de ruas que falam pelas paredes, filas
filas que invadem, fazendo parte do viver
sob a chuva fina, garoa que corta e faz ver

universos que se chocam e não se notam
e são esses dias mesmo que cinzas, não importa
há uma mutação breve, que logo só memórias restam

e relatos fazem com que a alegria fugaz desse passado
seja levado pra todo lado, como gozo pleno de um momento
que por uma vida sem cores, nem cinzas, deva ser lembrado.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sobre a chuva

A chuva que cai la fora
inunda inclusive o meu peito
chuva que eu já não quis, desse jeito
já foi melancólica, a que levou embora

mas se o céu chora, em mim olheira brota
e a água que corta fundo feito
faca na carne e o sangue escorre forma seu leito
estreito, como o fio d´água que se esgota

depois dos temporais vem com o sol a proposta
talvez a seca, quem sabe a bonança, efeito
é o que se fala, não importa, a vida se faz disposta

a novas tempestades intempestivas, e não se sabe direito
se mesmo ao caminhar no mais seco, o que nos espreita
se molhados pela chuva queimado pelo sol esperando então o próximo ato.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A lua e o firmamento

Se tua boca é a lua
sou eu então o firmamento em tono
de cada parte luminosa ou obscura que flutua
para que flua a comunhão e o pleno

entrelaçar de duas forças universais
inexplicáveis, intangíveis, incontroláveis
tão distópicas, dúbias, assim, naturais
fontes das mais prováveis e improváveis variáveis

e tendo com plateia, brilhantes estrelas
cada beijo cava, incendeia, quase fala
sem palavras algo que se ouve, degusta se inala

então feito corpos celestiais, espíritos livres
que coexistem e se chocam assim vivem
cada momento intensamente como nos livros.


quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Normalidade

Em toda essa onda de normalidade
corro, pulo, trombo com minha insanidade
fugindo de ser o eu dessa sociedade
que toma, arrebenta com toda intensidade

e torna normal, em terra de convencional
consome, gela, petrifica, robotiza o carnal
tudo oficial, bem escrito, escroto, esquece o banal
ritual do segundo, sem segredo ou final

mais obscuro, impuro, indevido, prescrito
do mais pavoroso e restrito, aterrorizante grito
ao mais profano ou pervertido dito

a voz do mudo, a luz do cego o excluído
todo o lixo, profundo, solto pelo mundo,
humano ridículo, mas louco e pensando

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tempos impossíveis.

Não sei se ela partiu meu coração
ou quem fez isso com o dela fui eu
porém acho desnecessário buscar culpa ou negação
creio que ambos sofreram escaras, e que certamente doeu

ainda não cicatrizaram, e talvez nunca irão
sensações, memória, muita ilusão, integram
pensamentos dos mais variados, cercam, a confusão
caótica, de certa organização, de onde essas ideias ecoam

sem sins ou nãos, apenas e simples divagações
reflexões tão improváveis, como compreensíveis
de certos sonhos coloridos que outrora se fizeram impossíveis

mas que por si não some, ideias são recicláveis
e recriadas, pelo tempo que mostra como foram insanamente incríveis
sobraram, ficaram, restaram pedaços de laços do que hoje assim me fez.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Coelho

O meu tempo, não tem mais tempo
corre feito coelho, que nem ao espelho
pode olhar, guiado pelo modelo do tipo
mais comum, não enxerga se quer seu olho vermelho

pobre coelho não sabe se pelo cansaço ou pela fumaça
de qualquer jeito segue da toca pro pasto
dando pro gasto, feito que não sente o gosto
doce ou amargo, o ar que respira, o chão que o pé amassa

meramente aos saltos passa, não deixa impressão
não é tomado pela reflexão, acredita na palavra escrita e na televisão
presa, o coelho, em fins de dia aos cacos não tem direito a ilusão

se esta não tiver bom preço, marca e todo tipo de função
que faz com que o coelho, trabalha noite e dia, consumação
dos sonhos adquiridos, todo os dias na programação.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Poeta ou Guerreiro

Não sei se guerreiro com alma de poeta
ou se poeta com alma de guerreiro
em meio ao nevoeiro, o que espreita

são batalhas, conflito ligeiro e sorrateiro
que só um coração suavemente embrutecido, aceita
adentrar nos meandros do verborrágico tiroteio incerteiro 

então, cego quem enxerga é a alma inexata
mas concentrada na imensidão, sim, inteiro
vivendo mente, alma e coração, a conquista

dessabores e deliciosas ilusões, nada certeiro
porém incisiva como fio de espada corta 
palavras são lançadas, ríspidas, como adagas ou lanceiro

direta como a seta de um arqueiro, modesta
humildemente expressa a euforia ou o desespero
parte, golpeia, repulsa, rasga, registra contesta.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Palavras

A dias que não me encontro com as palavras
são elas, ah como são elas que me lavram
em meu peito a semente das ideias
e é através delas que me recria

a todo dia como um rio que corre
e em minha poesia e transcorre
levando o estranhamento e a todo momento
os questionamentos se fundem a sedimentos

farelos de memória, narram, contam
pensamentos e a história que rimam
naturalmente e como sopro dos ventos que passam

e a face do papel marcam de forma simples
despretensiosamente, inconsequente, assim
gravando, registrando, o que da palavra se fez.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Feitiço da Música

Que fascínio, feitiço hipnótico se instaura
quando na vitrola um som reverbera
não importa se Cartola, Chuck Berry ou Bob Marley
aflora de dentro pra fora, um certo transe

é como se a pulsação estivesse na cadência
que sem pedir licença toma a mente e o coração
seja pandeiro , baixo, guitarra ou sete cordas de um violão
somam-se a vozes singulares formam cantos de malícia,

paixão, protestos tão singelos como orações
dão sentido a vida de gente simples
que nasceram sem voz, mas criaram canções

tão simples tão belas quanto os seres que deram-nas a vida
gente as vezes esquecida, mas que são vivas
a cada pedaço de sua música que ainda hoje é cantada.