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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Rotina

A rua é tomada pelos motores, passos contados
guiados, pessoas ruminam dos currais aos pastos
seguindo os mesmos rastros, estando assim fadados
como máquina ser tratado, e do ser resta apenas o retrato

que diante do espelho se vê desintegrado, pálido
sendo sombra, apenas de quem outrora vivia de fato
a consciência um detalhe sutil, abruptamente eliminado
do trabalho explorado, da sociedade do espetáculo é fruto

irrigado com os fluidos mais variados, apático vai se tornado
os que desse sumo provam, sem nem mesmo saber disto
se enquadra, acorda, dorme, come, trabalha, se formatando

enquadrando girando a roldana como na gaiola faz o rato
sem ouvir, pensar, questionar, sonhar o não imaginado
fortalece a cada dia com a rotina melancólica seu monótono pacto.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Tempo

Entre o chão e o céu a torre se enterra
em quem fica inerte, se omite não erra
o erro é lá no fundo, fugir do normal
deixar levar o mundo, sem destino final

sem roteiro, esparre, escudo de guerra
ou infortúnio, dos tempos mais escusos, que agarra
e pela porta dos fundos, desfaz-se tudo sobra só o sinal
tão quase é tudo, devorado pelo tempo, seja sublime ou banal

porém eu não me iludo sou preso também, pela sua amarra
de um nó forte e profundo do qual fuga não se tem, não corra
reflita, então, pergunte, como corre, se para ou se segue, carnal

ou instituído, ou o instinto do canto do animal
que percebe cada momento diferente, torra
cada caco de vida vivida, sempre levando a forra.

Retrato dela

Hoje as palavras escorrem feito
gotas de chuva no vidro da janela
ou o mel que corre nos lábios dela
sobe o cheiro do seu perfume no balançar do jeito

que só os seus cachos sabem pelo ar pairar, resplandecente
é o seu sorriso de um ar ingênuo, ardente
encanta e invade a mente com certo brilho
desses que brotam no espirito, e se reproduzem nos seus olhos

insinuantes, que fitam e hipnotizam, numa troca de olhar
talvez uma carícia, da sua pele macia, suave feito orvalhar
da manhã tão serena que a grama suavemente vem molhar

e toma com sua voz digna do canto da sereia
que chama de sublime maneira quem passa a se atirar por inteiro
nas profundezas do seu coração como o sangue que flui em tua veia.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sapato apertado

Em certos dias em que paro pra pensar
se na vida, no destino, no tempo a passar
percebo como sou eu quem paro e encaro
a todo momento e entre espaço e tempo, me deparo

sendo assim com a caneta alivio o meu calo
que já é crônico e inflamado pelo sapato apertado
de outrora, que cansado agora, pude arranca-lo
e tentar novos passos, sem pés formatados

apenas marcados pelos acasos dos caminhos
e seus desvios, as vezes tortuosos, desconhecidos
com sua lama, ou seu saibro batido, talvez espinhos

quase sempre sozinho, desenrolando o enfumaçado
no real teatro, cujo o palco, são os diversos ninhos
de ideias, pelos quais caminharei sem calçado acochado.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Conto de carnaval

Um domingo de carnaval cinza
um samba tão velho que versa
de estrelas, de florestas de pedras, de casa
uma em cima da outra, sob a neblina espessa

de gente que não para, gente que não se fala
de ruas que falam pelas paredes, filas
filas que invadem, fazendo parte do viver
sob a chuva fina, garoa que corta e faz ver

universos que se chocam e não se notam
e são esses dias mesmo que cinzas, não importa
há uma mutação breve, que logo só memórias restam

e relatos fazem com que a alegria fugaz desse passado
seja levado pra todo lado, como gozo pleno de um momento
que por uma vida sem cores, nem cinzas, deva ser lembrado.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sobre a chuva

A chuva que cai la fora
inunda inclusive o meu peito
chuva que eu já não quis, desse jeito
já foi melancólica, a que levou embora

mas se o céu chora, em mim olheira brota
e a água que corta fundo feito
faca na carne e o sangue escorre forma seu leito
estreito, como o fio d´água que se esgota

depois dos temporais vem com o sol a proposta
talvez a seca, quem sabe a bonança, efeito
é o que se fala, não importa, a vida se faz disposta

a novas tempestades intempestivas, e não se sabe direito
se mesmo ao caminhar no mais seco, o que nos espreita
se molhados pela chuva queimado pelo sol esperando então o próximo ato.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A lua e o firmamento

Se tua boca é a lua
sou eu então o firmamento em tono
de cada parte luminosa ou obscura que flutua
para que flua a comunhão e o pleno

entrelaçar de duas forças universais
inexplicáveis, intangíveis, incontroláveis
tão distópicas, dúbias, assim, naturais
fontes das mais prováveis e improváveis variáveis

e tendo com plateia, brilhantes estrelas
cada beijo cava, incendeia, quase fala
sem palavras algo que se ouve, degusta se inala

então feito corpos celestiais, espíritos livres
que coexistem e se chocam assim vivem
cada momento intensamente como nos livros.